quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A Voz Do Silêncio -

Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem
Martha Medeiros
Ontem chorei. Por tudo que fomos.
Por tudo o que não conseguimos
ser. Por tudo que se perdeu. Por
termos nos perdido. Pelo que
queríamos que fosse e não foi.
Pela renúncia. Por valores não
dados. Por erros cometidos.
Acertos não comemorados.
Palavras dissipadas.Versos
brancos. Chorei pela guerra
cotidiana. Pelas tentativas de
sobrevivência. Pelos apelos de paz
não atendidos. Pelo amor
derramado. Pelo amor ofendido e
aprisionado. Pelo amor perdido.
Pelo respeito empoeirado em cima
da estante. Pelo carinho esquecido
junto das cartas envelhecidas no
guarda- roupa. Pelos sonhos
desafinados, estremecidos e
adiados. Pela culpa. Toda a culpa.
Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo
que foi e voou. E não volta mais,
pois que hoje é já outro dia.
Chorei...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A paz é amor porque só surge quando se está ao lado de alguém sem medo, sem culpa, sem pena, sem ter que explicar ou se explicar, sem interesse algum senão o de ficar ali.
(...)
Difícil a paz no encontro humano, porque ele está vivo, cercado por palavras atropeladas, explicações febris, idéias infeccionadas, teorias leprosas e lógicas estupradas. A paz não concilia com nenhum sentimento. Arisca e exigente, só aparece quando não há sintomas de medo, culpa, interesse, pena, dependência, ciúme, possessão ou cobrança.
(...)
A paz é a única medida mais ou menos precisa do que é o amor. Por ela, ele se define e transluz. Se paz não surge, então o sentimento (ainda que intenso e profundo) será tudo menos amor.
____________________Artur da Távola