terça-feira, 23 de agosto de 2016

Continuar...

Algumas séries me fisgam pelas beiradas. São frases, ditas no meio de um episódio, que me levam a refletir os últimos acontecimentos de minha vida, e de repente estou apaixonada pelas personagens, feito a Teresa, de "Três Teresas", na noite de ontem. Lá pelas tantas, a frase: "O mundo da gente começa a morrer antes da gente... e a gente tem que continuar..." _ Pronto. Foi a deixa para meu pensamento voar, entender alguns desencaixes, suportar certas partidas, colocar algumas peças no lugar.
A gente tem que continuar mesmo depois que o arroz queima, a água seca, o vinho entorna. A gente continua depois de descobrir que os defeitos pioram com a idade e as qualidades viram hábito no dia a dia. A gente tem que continuar depois do luto, da partida, da despedida. das horas frias, do caminho incerto. A gente continua e aprende a cantar "apesar de você, amanhã há de ser outro dia..." para o amor que não deu certo, para as falhas recorrentes. para nós mesmos que nem sempre somos aqueles que gostaríamos de ser. Apesar de nós mesmos, de nossas fissuras e desencantos, a gente tem que continuar...
E aprendemos que ter que continuar é muito mais que traçar um caminho que justifique nossa esperança por dias melhores. É saber deixar pra trás com sabedoria, entendendo que a vida é constituída de muitas histórias, e que finalizar um capítulo não significa dar fim ao que somos.
O mundo da gente começa a morrer antes da gente, e aceitar nossa responsabilidade em deixar o mundo se modificar, se despedir ou se transformar requer coragem. Coragem de romper com modelos antigos do que fomos e assumir com maturidade novas versões _ muitas vezes melhores _ de nós mesmos.
De vez em quando nos habituamos a antigos nós. Preferimos a dificuldade do que é conhecido à facilidade de novos e perfeitos voos. Desdenhamos a felicidade como quem se empenha em ser infeliz e construímos muros a nos proteger da vida que chega trazendo ares de esperança e novidade. Preferimos nos refugiar no que é conhecido, e nem sempre melhor.
Muita esperança chega junto ao fim de ano e a promessa de novos dias, limpinhos, pra gente escrever a história da melhor maneira que puder. Talvez precisemos aprender a aceitar as novas realidades que inevitavelmente ocorrerão. Haverá a mãe que terá que se adaptar ao fim da licença maternidade, a adolescente que verá seu namoro ruir, o homem que receberá o pedido de divórcio numa manhã aparentemente comum, a senhorinha que vai enviuvar, os pais que levarão seu menino ao aeroporto para fazer intercâmbio, a menina que verá o fim da infância num teste de gravidez, a decepção do jovem, o casamento da moça dos sonhos, o ninho vazio, as novas dores da maturidade, a traição, o recomeço, a renegociação com a vida.
Talvez seja isso. Aprender a renegociar com a vida, descobrindo que novas portas estão sendo abertas, mesmo que haja a tendência de nos fixarmos em cadeados fechados. O mundo da gente começa a morrer antes da gente, mas o futuro também guarda boas surpresas, e o que se pode chamar de "nosso mundo" não existe só no passado, mas na realidade que construímos diariamente e somente nós podemos lapidar.
A gente tem que continuar. Que o que está por vir traga o reconhecimento de nossos presentes, dádivas reais que permanecem além da morte de nosso mundo ou de um tempo. O que ninguém nos tira: a capacidade de nos recriarmos em qualquer tempo. A alegria de nos percebermos resistindo, apesar de tudo. A satisfação de percebermos nossa coragem. E finalmente, a paz de nos aceitarmos por inteiro.


Às vezes, a vida nos tira o que ou quem temos de mais precioso, trazendo-nos uma perda por demais dolorosa, cujas marcas estarão impressas em nossa alma enquanto vivermos. Poderemos até voltar a sorrir, a sonhar, a ser alguém que segue em frente, mas a carga das cicatrizes enraizadas estará ali, silenciosamente presente.

Qual é a sua?

Sabemos que não nos esquecemos, e pode até ser que por motivos bem diversos... mas sabemos também, que não sou, não és, não somos indiferentes.
O que de alguma forma, ainda nos prende nas curvas do espaço-tempo.
Quem sabe ainda com os mesmos sentimentos...podes negar, mas pensa um pouquinho, porque será que me abominas tanto?
Tenho que te falar...ódio e amor caminham muito próximos, é uma linha tão tênue que muitas vezes confundimos tudo...
Bem sei que vc tocou sua vida adiante, assim como eu, afinal a vida segue, sempre...Mas será que esquecemos realmente o que nos era tão vital? 
Sei que estas com outra pessoa, e do fundo do meu coração, desejo que esteja tudo mais ou menos com vcs...Eu não sou hipócrita de negar o que sinto, e cá pra nós, ela pode ser ótima pessoa, mas esta bem longe de ser a pessoa que vc realmente quer. E olhe que nem vou ser pretensiosa e dizer que essa pessoa sou eu. Tenho defeitos demais pra isso. 
Agora se faça apenas uma pergunta...Porque revisitas o passado do qual, de alguma forma, eu aqui, a pessoa mais cheia de defeitos e que vc detesta, faço parte?

domingo, 21 de agosto de 2016

CADA UM NO MEU LUGAR...

Por Artur da Távola, de seu livro "Cada um no meu lugar"
Há um momento, no auge do desentendimento, em que o máximo de raiva está a um milímetro do máximo de amor.
  • Há algo que permanece em tudo que se separa. Esse algo é o que dói, mesmo quando a separação é, ou foi, o melhor caminho.
  • Há um projeto sempre irrealizado em toda a relação que se realiza. Uma necessidade nova sempre se coloca a cada satisfação da anterior.
  • Entre pessoas que se amam, há verdades e sentimentos que, se aparecem quando elas estão juntas, separam; e se aparecem quando elas estão separadas, machucam, dão saudade, vontade de juntar.
  • Gostar não é apenas durante. É, sobretudo, depois.
  • Amar é apesar, aquém e além da pessoa amada.
  • Dilema do homem. Na vigência do casamento ele se sente preso e atado. Quer, quer a separação. Não agüenta mais as limitações da vida comum. Aí pinta a separação e ele, mais do que a mulher, entra em pânico.
  • O homem está menos preparado para a liberdade da mulher do que ela.
  • Os verdadeiros apetites sensuais sempre se manifestam com mais clareza quando a inviabilidade, a dificuldade ou impossibilidade da relação se impõe.
  • Casais separados conseguem certas intensidades amorosas impossíveis na vigência do matrimônio.
  • Certos graus de amor só são perceptíveis a partir da impossibilidade de se exercerem ou da ameaça de não poderem jamais vir à tona.
  • O caminho da liberdade pessoal, da descoberta das próprias potencialidades, muitas vezes só é possível a partir de um sofrimento de amor.
  • A vigência de neuroses não complementares impede a possibilidade de melhora e crescimento interior de ambos.
  • Um neurótico nunca vai para o brejo sozinho.
  • Uma separação dolorosa às vezes acaba por se transformar na melhor maneira de ensinar a pessoa a ela mesma.
  • Quase sempre desprezamos a chance do novo em nossas vidas. Atados que estamos a uma necessidade de eco e repetição de tudo o que nos traz(ia) segurança.
  • Em convivência e em amor, o que perdura através do tempo, mesmo que à custa de muita dificuldade e de um precário equilíbrio, revela a existência de uma relação profunda. Tempo nem sempre é acomodação. Muitas vezes é sinal de uma sabedoria intuitiva que autoriza a permanecer com a ligação mesmo quando ela pareça insatisfatória e incompleta. O que consegue vencer o tempo consegue vencer, também, impulsos passageiros com sabor de emoção e novidade.
  • O que não acaba apesar da convivência, abençoado está.
  • Em amor, se é preciso explicar, então já não se deu o entendimento profundo, a adivinhação da verdadeira necessidade do outro.
  • O que se precisa explicar nunca será explicado.
  • Quem não te adivinha não te merece.
  • Rende-te à natureza de quem amas e esta começará a te obedecer.
  • O que perdura numa relação que se fragmenta é sempre o que de verdadeiro havia nela.
  • Uma impossibilidade bem vivida é mais rica que uma possibilidade mal vivida.
  • O que volta depois de ter passado é porque nunca deixou de existir.
 Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito do amor da sua vida!