quarta-feira, 7 de dezembro de 2016


Calma, o que você vê em mim é calma e não desespero. Somente a calma, bruta e intacta dos vulcões dormentes. Há uma doçura inexplicável em esperar teu tempo, um certo consentimento, uma contemplação das suas horas se desdobrando vagarosamente. Eu estou mais presente, silente, do que muitos dos falantes, tão preenchidos da ausência de sentido.

À minha volta, paixões se assentam

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como lava que abraça as montanhas com o passar dos tempos. Que culpa tenho, se seu barulho interno não o permite ouvir, se sua pirotecnia não te deixa ver, se sou do tipo que sorri com discrição, mas só quando é verdadeiro? Sou uma explosão inversa, de silêncios que dizem, de toques que entregam, entrelinhas que não margeiam.
E enquanto o mundo se estilhaça, se mistura, se perde, se confunde, turbulento, eu tenho calma. Acusam-me de ser tudo o que não sou – Blasé, letárgica, apática! – E quanto mais me definem, menos estou presente. Acusem-me de tudo, menos de letargia. Que por dentro meu mundo é todo inteiro movimento.
Para me enxergar é preciso esperar que as cinzas durmam e que as pálpebras das chamas pesem e pesem, lentamente, como a ardência que desiste aos poucos de ser fúria, ser vulcão. Não me equacione, nem me reduza. Não se trata da ânsia de te ter por inteiro, nem do meu vício de ser sozinha. Meu amor é calmo e silencioso como os dois segundos que antecedem uma explosão.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016




"A mesma pessoa que provoca confusão na nossa mente é a única 
que tem o poder de pôr ordem na nossa alma."

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

AMOR, por Carolina Ferraz

(...) "Mas foi um amor, um único amor que veio, cruzou minha vida, tocou a minha alma e ficou marcado em minha pele.Todos nós carregamos conosco uma história. Aquela que só nos atrevemos a lembrar quando, durante a noite no escuro, encostamos nossas cabeças no travesseiro e o silêncio cala fundo. Não importam os anos, certas coisas simplesmente permanecem.Mas então, numa quinta-feira a tarde de um ano qualquer, tropeçamos nesse amor já supostamente esquecido. Percebemos que amor igual não há e aquela pessoa continua e continuará a ser nossa referência afetiva mais sincera e profunda.Não é doença nem obsessão. Alias não é nada, só amor. Amor dos bons, daqueles que são únicos e maravilhosos, que acontecem poucas vezes na vida das pessoas. Daqueles amores que ficam e que teremos que conviver com ele como algo concreto e parte de nossas vidas.Que alma consegue atravessar a vida sem ter conhecido o amor? E quem sabe ter a sorte de ser correspondido?Que vida vale a pena sem amor?Nenhum sentimento é mais lindo, profundo e transformador que o amor. Só o amor transcende e purifica, enlouquece, cura, invade, permanece, liberta e aprisiona. Quando acontece é um som grave que penetra invade e permanece.Não compliquem e nem elaborem o sentimento mais incrível e poderoso de todos. Permitam que ele chegue e se instale.Pois o resto são bobagens, meninos. Bobagens.”

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Resultado de imagem para solidão
Se você está lendo isso agora, já deve saber que não, eu não morri sem você. Foi quase. Cheguei o mais perto que pude de um caminho sem volta, mas voltei. Cheguei quase ao ponto de não poder continuar, mas continuei. Porque antes de você, outros me ensinaram que na manhã seguinte posso estar caída, mas na semana adiante, estarei melhor e na semana seguinte, estarei de pé. Sou dessas. Do tipo que se levanta.
E terei meus pés fincados na terra, como uma bandeira em um país que se conquista, uma guerra que se vence, uma dor que dissipa. Algo me diz que fará bem pro seu ego saber que eu chorei. Às vezes, no meio do dia, no hábito do nada, eu choro pensando se a culpa é minha. E eu a levo, pequena, delicada, como um bebê nos braços, por anos. Aquela culpa tardia que me acompanha nada mais é que a falta velada de você.
Carrego-a até entender que na guerra e no amor todos conhecem as regras – sobreviver. Por isso escrevo, não pra destrinchar minha dor em mil partes, não diante de você. Escrevo pra contar que você não tem culpa nenhuma afinal. No fundo, eu sempre soube quem você era. Talvez em algum momento eu também tenha amado isso, esse seu jeito de ver a vida, mesmo que depois ele tenha se virado contra mim. Não há culpados. Alforrie-se também.
Dia desses, sonhei com vc se casando, e chorando eu corri. Sabe-se lá o motivo. Na verdade, corri feito uma doida. Agarrada com a bolsa frente ao peito, como que tentando guardar meu coração dentro nela. Entendo o desespero...saber que vc me apagara tão completamente de sua vida doeu horrores....  Você sempre me destemperou um pouco. Mas acostumar meus olhos a não ver-te criou isso, uma falta de costume de te ver. Também estou escrevendo pra dizer que não fugirei mais. Ainda que olhar nos seus olhos cause uma dor infinda. Serei apenas grata enquanto te olho.
Grata inclusive pela dor que me causa. Porque me recompor, me reconstruir noite  após noite, mostra como amar é inexplicavelmente bom. Porque no fundo não sei se é sua falta que dói, mas a falta dele, do amor. Amor que nem você, nem eu mesma pude me dar. Mas, como você pode ver, isso também pode mudar.... Não, ficar sem você não me matou.  Acho que fiquei  um pouco amarga, mas não perdi a fé, ganhei uns quilos, talvez pra compensar o amor perdido. Aprendi também que os erros são aceitáveis quando o que a gente vive é ensaio. E todo ensaio é sinal de que algo grandioso e real ainda está por vir. Fique bem. Eu estou tentando...

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Valse

Há um lugar onde a minha calma mora, encostada na insistência de uma arvore antiga. Há um lugar onde as tempestades não me encostam e os medos não me podem encontrar. Há um lugar, à beira das águas mansas das lembranças, onde também descansam todos os meus sonhos de futuro contigo. Quando sou, a mais antiga das arvores antigas, você se faz sombra e fica comigo, indicando-me as horas, guiando-me para a luz.
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Há um lugar onde a minha alma brota, onde a minha fé aflora diante dos primeiros raios de luz. Há um lugar em que minha atenção difusa, minhas palavras confusas e minha memória pouca, não fazem diferença alguma. Basta que eu seja, basta que eu esteja ali e, logo, você também está comigo, dançando lento à minha volta.
Há um lugar em que meus pensamentos te trazem de volta, em que a minha saudade te chama baixinho, em que penso em você e no instante seguinte, comigo está. Há um lugar, em que você se demora, em que suas histórias nunca terminam. Há um lugar em que sou só sua e não há conflito nisso. Nem de tempo, nem de existir, eu sou sua e só isso. Há um lugar em que existo para testemunhar você existir diante do meu olhar entardecido.
E nem o vento apaga a sombra tranquila, e nem a chuva dilui a sombra tranquila e nem a noite escura te apaga de mim. Quando estou mais perdida, quando estou com mais medo, quando todos os zumbidos da noite vêm me dizer, quando eu, o mais antiga das arvores antigas, pareço-me também o mais sozinha dos sozinhas, é justo nessa hora que você me abraça por inteiro.

sábado, 5 de novembro de 2016

Attraversiamo

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Há uma chave que abre uma porta. Alguns conseguem pegar a chave, girá-la na fechadura e abrir. Outros conseguem se aproximar da porta segurando a chave, mas não encontram a fechadura. Um grupo maior enxerga a chave e a porta, mas não consegue segurá-la ainda.
O mais lindo dessa antiga história que me contaram é que os antigos acreditavam que diante de todas essas possibilidades, saber que a chave existe já é um grande presente. A chave é amor, a porta é seu coração, entrada de sua alma.
É nisso que penso, em dias como o de hoje. Em que sinto saudade de quem amei, em que penso que às vezes poderia ter me esforçado mais para girar a chave, me dedicado mais para aprender a segurá-la, como uma criança de poucas semanas fazendo descobertas através de uma repetição delicada.
E assim, quando olho meu coração daqui de fora, quando olho atentamente em outros olhares esperando um reconhecimento mais antigo de volta, aguardando um sorriso gracioso que me ilumine como os céus de todas as cidades em que já vivi, meus medos me tomam.
E assim eu aguardo em delicadeza e repito essa prece interna de crer que alguém tenha sido mesmo  minha chave e tenha tido a candura diante dos meus medos e me ensinado um caminho terno e eterno até a paz que eu sei que existe em mim, quando estive com ele.
Há uma chave que abre uma porta. Alguns conseguem pegá-la, outros girá-la, outros aguardam calmamente na certeza serena de que ela simplesmente existe.

....ou existiu!


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Ninguém telefona mais pra gente na era dos aplicativos. Mas, estranhamente, essa semana meu telefone tocou. Lara toda feliz do outro lado. Acho que ela é a única que ainda liga para as pessoas – Tô namorando! – empolgada.
Jura? Me conta dele – silêncio – Ah, ele é advogado – silêncio – Sei… Mas me conta como ele é – silêncio – Ele é bonitão, assim, alto – silêncio – Lara, eu quero saber como ele é, o que ele gosta de fazer, o que vocês fazem juntos, quero saber por que ele te faz feliz – silêncio.
Lara não sabia como responder àquilo. Claro, ela poderia fazer um perfil psicológico dele: calmo, educado, focado, inteligente. Esse não era o problema. Minha amiga não sabia responder por que ele a fazia feliz ou se ele a fazia feliz. Em resumo, Lara é mais uma que não sabe por que ama quem ama. E isso lança uma névoa espessa no ar – Ama mesmo? Ou você ama a ideia de amá-lo? Muita gente não percebe, mas há um universo inteiro de distância entre esses dois sentimentos.
Você ama estar com ele ou ama ter alguém com quem estar? Você tem medo de se imaginar no futuro sem ele ou tem medo de se imaginar no futuro sozinha? A voz dele te reconforta ou só preenche o silêncio da casa? O beijo dele te inunda a alma ou só rouba o ar? Talvez, na pressa de ser feliz, você não tenha parado pra pensar.
Melhor mal acompanhada que sozinha? Um dia o medo passa; os olhares que te olham de fora cegam; as opiniões que te acompanham, calam-se; e tudo o que lhe restará é a sombra remanescente das escolhas que fez. Quando a gente se agarra a alguém pelo simples medo de ficar sozinho, sozinhos somos duas vezes.