quarta-feira, 22 de março de 2017

FOI LONGE!
Quando quis ir
e as pernas me falharam
quando senti que o chão
era de aço
e o céu do mais puro chumbo
quando o meu cansaço
não me deixava prosseguir
quando o meu desalento
vinha do fundo
da minha alma
quando senti saudade
e não te tive
quando o céu beijava o mar
e eu ali tão perto
Quando os meus olhos
nada viam
só deserto
quando quis sorrir
mas era meu espectro
de felicidade que via no espelho
Quando quis chamar teu nome
e foi eco que recebi
Quando finalmente percebi
que tinha de ser eu por mim apenas
e mais ninguém
Não mais me importou
onde me sentei
que céu olhei
que palavras dedilhei
no céu da boca
pois independentemente
do caminho traçado
do chão calcorreado
dos passos bons ou maus que dei
meu coração sentiu que tinha chegado
e aí eu parei
Parei de te procurar
e milagres dos milagres
me achei!
Quero o perfume das flores
lavrado nas minhas costas
quero as dúvidas todas
e as respostas
Quero a luz que vem do teu olhar
a tardinha a desmaiar
refém da tua ternura
Quero a tempestade
a ventania
e o prado verde
cercania
da minha cidade
fonte da minha amargura
Quero os versos sem idade
que ao longo de anos compus
quero que em mim recaia a saudade
as sombras e a luz
Quero esse amor louco
que me consome
quero o verbo e o pronome
porque só o sujeito é pouco
e quero meu amor
mais que tudo nessa vida
o teu beijo mel em mim cravado
na hora da despedida
De quantas palavras precisas
para cederes ao apelo dos meus braços?
De quantas luas precisas
para te sentires céu ?
E de quantas fogueiras que te aqueçam a alma?
Quantos ventos terás de enfrentar
até cederes ao remoinho do teu corpo?
E de quantas chamas são feitos os teus versos
que ardem na ponta dos dedos?
Com esses dedos que não me tocas?
Diz-me de que cor é o mar que trazes nos olhos
e o sal que vem em cada beijo que não damos?
Alguém me disse um dia que amar
não implica tristeza nem solidão
mas há um brilho baço em cada olhar nosso
feito de finos fios de desejo e saudade

sexta-feira, 17 de março de 2017

Num dia que não hoje eu dir-te-ia que já te esqueci que não te guardo rancor ou qualquer mágoa Que os meus olhos água estão iguais aos que sempre foram Num dia que não hoje eu dir-te-ia que os pássaros já se deitaram e que as arvores abanam despidas ao vento que há um certo encanto em todo o silêncio e que a saudade dá alento a quem sabe esperar Num dia que não hoje confessar-te-ia as minhas fantasias do que tenho medo as fraquezas e ousadias que coabitam em mim.... Mas hoje que não vislumbro a lua que o céu parece ameaçar chuva e que as janelas não se iluminam de estrelas apenas me ocorre dizer que nenhum dia é igual a outro mas que em todos eles sinto a tua falta!
Foi assim que eu aprendi que tem coisas piores do que ficar sozinha. Poderia não ter amigos. Poderia ser incapaz de lapidar a palavra, ou, tanto pior, eu poderia ser feia...ou burrinha...
Só não pode ser cedo demais ou tarde demais. Agora preciso esperar que o próprio tempo dissipe esse aborto que é o ~ cedo demais ~ .

Nessa hora eu invejo profundamente toda e cada árvore. Elas vivem os invernos da alma com leveza. A tristeza, ela também é parte da vida. Então vou falar uma coisa, dessas que todo mundo sabe mas não tem tem muita coragem de falar em voz alta: precisamos aprender o tempo do triste. Eu e você. Para lembrar que ele também é tempo e, como tudo, passa. Só que eu, eu tenho uma natureza alegre. Ela é pouco tolerante ao tempo do cinza. Uma combinação difícil. Como conciliar forças tão divergentes? Se eu tivesse a natureza dos bambus, me curvaria, quieta, nos dias de vento a esperar passar. Se eu cultivar na alma a natureza de todas as árvores, será que eu consigo aplacar a fúria da pressa?

Porque o tempo, o tempo é tudo o que temos. O tempo das coisas que duram ou das que terminam. Há uma dignidade no fim. E há uma dignidade no tempo dos sentidos, assim como há uma dignidade na tristeza também.
Só assim podemos conviver com nossos erros e acertos ou nossas vidas destruídas: aceitando as coisas com o tempo de cada uma. De frente. No presente. Porque também há uma dignidade no fracasso. E há uma dignidade inclusive no desespero - a mais terrível forma de tristeza. É uma tristeza que não se quer se saber triste nem aceitar o tempo da espera. Mas também é quando a dor do erro descobre que não tem mais o que esperar. Quando não há o que esperar, o tempo aquieta. Paralisa.
Aí você me pergunta: e você?
Eu?
Eu desesperei - enquanto todos encaravam, com horror e espanto, a fragilidade de uma alma incapaz de se render ao tempo das coisas.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Por isso, veja bem, a importância do tempo das coisas, você me entende? Não dá pra acelerar ou deixar pra trás o ritmo dos sentimentos sem se tornar um hipócrita, um cretino ou cínico. Eles, como as coisas, têm o tempo que tem que ter e não dependem mais de mim ou de você ou de ninguém. Mesmo que pareça impossível concentrar no corpo a calma das árvores, o tempo das coisas acontece em nós. Justo em nós, que ficamos sempre perplexos pelas dissonâncias do que nos acontece. Justo em nós, que olhamos assombrados para o nada, nosso destino, nosso fim. Justo em nós, que precisamos transformar em nosso o tempo do outro… - sem jamais esquecer que ele é do outro.
E eu? Eu tenho que aprender a me demorar mais. A me demorar mais em você, nas coisas. Precisamos de mais tempo. Não sou só eu que me perco na duração do instante. É que as palavras - e junto com elas os sentimentos - se encontram e se combinam de forma abrupta na trama dos eventos, eu acho que só para determinar algumas escolhas. Me aconteceu você. Eu aconteci em você. Abortamos. Tempo errado.
Por isso, eu preciso encontrar uma forma de conquistar a impassividade dos pinheiros que sabem de cor a hora de cada pinha. Eu sou sempre antes, sempre cedo demais e, quando eu me dou conta, já é tarde demais. Aí o que me resta é perambular pelas dobras do tempo, quando ele deixa de ser linear, e se dobra em mim, na minha dor, na minha incapacidade em apreender o ritmo do mundo. Nessa hora ele habita o pensamento, ali se vive tudo ao mesmo tempo - nesse espaço impossível - o antes, o depois e o agora. Não importa a ordem. Será que é assim que abandonamos o que já foi sem nos lançarmos, como uma flecha, ao abismo que é o futuro?