domingo, 7 de maio de 2017

Sei que me renegas com todas as tuas forças
e no entanto procuras-me em cada sopro de vento
que bate nas tuas cortinas
Sei que amas outros corpos e que muito provavelmente
já esqueceste até o cheiro do meu
Mas sei que não me esqueces nas palavras
que tentas calar na tua boca
Sei que te ressuscito a alma a cada lembrança
que ainda te faço tremer as pernas quando me recordas
Sei do teu sorriso e tu sabes do meu
de que cor é o meu sangue e a que sabe a tua saliva
Sei a cor dos teus olhos pousados nos meus
e do desabar da tua fragilidade no meu peito
Sei que me renegas e no entanto não me esqueces
És assim como a chuva que hoje desfolhou todas as papoilas
deixando-as nuas
E eu ....
Eu sou assim um pouco como o vento que sibila
rente aos teus ouvidos e que abana as tuas cortinas
tirando-lhes a majestade
desvirtuando-lhes a brancura ...
....Passo mas não fico ...
...mas nem por isso sou indiferente....

segunda-feira, 1 de maio de 2017


As Distâncias Tão longe, tão perto... Tão perto, tão longe... Somos ou estamos próximos ou distantes? Dependendo do ângulo e da situação, as distâncias mudam. E não se trata apenas de uma questão semântica. Até que ponto distância é separação? Eu posso trazer alguém comigo, permanentemente, na mente e no coração e não ver essa pessoa há anos... Eu posso estar permanentemente ao lado de alguém a quem fisicamente posso tocar, mas que me é emocionalmente distante. Distâncias são curvas e retas que ligam ou desligam, dependendo dos seres envolvidos. Somos todos parceiros numa caminhada comum, que é a vida e muitas vezes, subitamente, nos vemos muito próximos de pessoas, por circunstâncias únicas que podem nos predispor a continuar juntos, como também, por motivos especiais, podemos ser jogados em situações que nos afastem definitivamente de quem julgávamos estar para sempre unidos. Caminhar lado a lado é acertar o passo, mas viver às vezes impõe correr, o que pode nos colocar adiante do outro ou muito atrás... São, enfim, inúmeras as circunstâncias que poderíamos lembrar aqui, para exemplificar uma coisa que, na verdade, é muito simples de entender: estarmos próximos ou distantes de pessoas tem muito mais a ver com sentimentos do que com extensões espaciais e temporais. Afinidades são um elo forte e poderoso que não obedece à lógica da métrica e do espaço. Há pessoas tão especiais em nossa vida que, quando as encontramos, é como se o relógio houvesse parado, como se houvéssemos mantido um longo, silencioso e permanente diálogo com elas, como se nunca as tivéssemos deixado de ver e de tocar!... Assim são os grandes amores e as grandes amizades. Por outro lado, nem a contínua convivência é capaz de vencer os grandes abismos de uma má convivência. Quando esses se estabelecem, é necessário que se ergam pontes à base de muita paciência e boa vontade, numa reconstrução nem sempre possível. Entre dois pontos (seres), um intervalo... Maior ou menor, nulo ou extenso, eis um enorme desafio humano! Quem há de reger a sinfonia de tantos sentimentos conflitados? Nós; sim, nós mesmos. Nenhuma régua ou compasso estranhos terão ingerência sobre tamanhas sensações, ao mesmo tempo que nenhuma vontade alheia a nós também. Trata-se de uma memória emocional, cujo alimento mantém-se oculto ao entendimento. Quando percebemos que a distância não existe para pessoas que se amam de verdade, o mundo se torna menos hostil e mais simples. Porém, elos são anéis de contornos misteriosos. Fiquemos apenas com a certeza reconfortante de que entre dois ou mais pontos, por mais afastados uns dos outros que estejam, pode não existir espaço algum, vácuo algum e nenhum esquecimento. Distâncias são meras metáforas de sentimentos.
Sou uma alma cheia
numa casa vazia
uma trincheira rasa
pungente e sangrenta
ao nivel dos olhos
onde moram os lírios
a que não sentes o perfume
Se me perguntam se é Maio
respondo que a verdadeira beleza das rosas
está nos espinhos
e não nas cor das pétalas
Se me perguntam se gosto de ti
cerro os olhos e olho para o outro lado
para não ter de responder
As pétalas aveludadas gritam nas mãos
de quem as toca
assim como o silêncio faz cama no peito
de onde tu te recusas a sair

sábado, 29 de abril de 2017

CONFISSÃO
Que esta minha paz e este meu amado silêncio
 Não iludam a ninguém Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
 Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios 
Acho-me relativamente feliz
 Porque nada de exterior me acontece...
 Mas, Em mim, na minha alma, Pressinto que vou ter um terremoto.
Mario Quintana.
AMAR
Fechei os olhos para não te ver e a minha boca para não dizer...
 E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
 e da minha boca fechada nasceram sussurros e
 palavras mudas que te dediquei... 
O amor é quando a gente mora um no outro.
Mario Quintana.

sábado, 22 de abril de 2017

hoje vou sufocar a dor e a mágoa
vou erguer um altar a todos os deuses
tamanho o desespero que tenho
vou dizer baixinho todas as rezas que conheço
vou arrancar-me de mim no apogeu de florir
vou separar a alma do meu corpo
e olhar-me de cima para me entender
vou ser estilhaço, fragmento
fino papiro e unguento
da minha dor
Vou dizer-te tudo o que tenho entalado
na garganta
vou percorrer os trilhos da raiva
e os da esperança
e do fundo do meu desespero
vou gritar-te até que me respondas:
porque arrancas de mim quem mais amo?
porque não me deixas tocar a pele que me criou
que esteve comigo sempre que precisei
porque me queres levar quem me arrepia
porquê eu?
porquê não alguém que não ame ninguém
e logo eu que tenho tão bem querer?
São exíguas e futéis as palavras
grávidas de um qualquer deus
que não o meu
e morrem-me na boca
antes mesmo de as gritar!
tudo o que silentemente grito
é tudo o que eu não te digo!

sexta-feira, 21 de abril de 2017

entra!
Vem devagar!
Deita-te aqui
bem junto de mim
onde é o teu lugar
Fica enquanto puderes
e quiseres
Sabes que te espero!
Hoje e sempre!
E se tiveres de ir
encosta apenas a porta
bem devagar
deixa uma nesga entreaberta
para que possas voltar
não vá o vento roubar-te o lugar!...