sábado, 25 de fevereiro de 2017

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e close-upE humildemente me curvo
perante a fragilidade das coisas
perante a inocuidade
e a indelével saudade
que sinto quando olho 
e te pressinto
ao redor de todas as coisas vivas
E com os olhos rasos de água
te peço
volta!
Sinto-me tão frágil quando não estás
como se a morte me rondasse
e de mim levasse
o melhor que tenho

Voa-me
Alucina-me
entrega-me ao vento
Mostra-me que o céu existe
bem por cima das nossas cabeças
e depois serena-me
com a tua ternura
com essa ternura
que só as tuas mãos têm
com esse silêncio
com que só elas me sabem escrever



Milton Nascimento, Travessia, 1967