segunda-feira, 6 de março de 2017

Por ti desbravei caminhos                                         andei descalça
semeei ventos e tempestades

Por ti reneguei amores
amanheci noites enfermas no meu regaço
espantei o frio
e fui deserto
Por ti semeei trigo em pleno inverno
e deixei que as rosas me morressem nas mãos
sem sequer lhes sentir a beleza
ou o perfume
Por ti fui mais além
e achei que ainda era pouco
tornei-te em mim inesquecível
e bebi da tua pele
Por ti senti-me proscrita
e mil vezes maldita
por te amar tanto
Por ti fui amor e espanto
desejo e ternura
roca e fuso
de um tecido que só os meus dedos
em ti reconhecem
Por ti evoquei esperanças
que não tinha
e emudeci palavras
que tinha guardadas em mim
apenas para a ti dizer
E é por tudo isto
que por ti me abandonei aos dias
e sulco o chão palmo a palmo
Porque se a terra que piso
é inesquecível e mapeável
no meu corpo
tu também o és....
hoje e agora mais que nunca!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017



Talvez um dia te conte porque fugi!Porque fujo sempre! porque cerro os olhos para não ver Porque finjo dormir e sonhar Talvez um dia te conte
o verdadeiro motivo das minhas mãos unidas em prece do meu sussurrar baixinho das palavras que silencio Mas até esse dia chegar sou como o rio com pressa de ser mar como esse vento que te bate no rosto e te faz pensar em mim ainda que não queiras... E até lá sou eu quem te sonha e tu és quem se passeia dentro e fora do meu corpo!

Biagio Antonacci-coccinella

E eu penso em vc..mesmo depois de tantos anos, só vc...

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Não sei muito bem o que sou
mas sei que baloiço com o vento
Não sei muito bem onde caibo
mas sei que todos os sonhos cabem em mim
Não sei muito bem o que vejo
mas sei que olho até perder de vista
e que beijo devagarinho cada linha de horizonte
Não sei muito bem de que sou feita
mas sei que cada pedaço meu
é pertença tua
e nessa certeza me abraço
e nessa certeza me dispo
e nesse teu infinito caibo
como a lua cabe no céu
A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e close-upE humildemente me curvo
perante a fragilidade das coisas
perante a inocuidade
e a indelével saudade
que sinto quando olho 
e te pressinto
ao redor de todas as coisas vivas
E com os olhos rasos de água
te peço
volta!
Sinto-me tão frágil quando não estás
como se a morte me rondasse
e de mim levasse
o melhor que tenho

Voa-me
Alucina-me
entrega-me ao vento
Mostra-me que o céu existe
bem por cima das nossas cabeças
e depois serena-me
com a tua ternura
com essa ternura
que só as tuas mãos têm
com esse silêncio
com que só elas me sabem escrever



Milton Nascimento, Travessia, 1967