sábado, 22 de abril de 2017

hoje vou sufocar a dor e a mágoa
vou erguer um altar a todos os deuses
tamanho o desespero que tenho
vou dizer baixinho todas as rezas que conheço
vou arrancar-me de mim no apogeu de florir
vou separar a alma do meu corpo
e olhar-me de cima para me entender
vou ser estilhaço, fragmento
fino papiro e unguento
da minha dor
Vou dizer-te tudo o que tenho entalado
na garganta
vou percorrer os trilhos da raiva
e os da esperança
e do fundo do meu desespero
vou gritar-te até que me respondas:
porque arrancas de mim quem mais amo?
porque não me deixas tocar a pele que me criou
que esteve comigo sempre que precisei
porque me queres levar quem me arrepia
porquê eu?
porquê não alguém que não ame ninguém
e logo eu que tenho tão bem querer?
São exíguas e futéis as palavras
grávidas de um qualquer deus
que não o meu
e morrem-me na boca
antes mesmo de as gritar!
tudo o que silentemente grito
é tudo o que eu não te digo!

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