domingo, 26 de março de 2017

Poderia rir com qualquer pessoa
mas escolhi rir contigo
Poderia ter qualquer outra boca
mas escolhi a tua
Poderia desfalecer nos braços de alguem
mas escolhi os teus
sigo ao sabor do travo
que me deixaste na boca
e resgato o cheiro que me sobrou nas mãos
Percorro no instinto todo o silêncio
que me acolhe
e sei que a vida é um lapso
um hiato de tempo que nos escolhe
mas enquanto respirar
e souber escolher
não é uma boca qualquer
mas a tua que escolho
é o teu rosto que perscruto e olho
e é nos teus braços que quero amparo
A vida é curta
mas quero percorrê-la ao teu lado....sempre!

PERHAPS LOVE (Tradução)

sexta-feira, 24 de março de 2017

Este choro silencioso e manso
que mal se vê e se sente
que me molha a face
descontente
que me toca e inunda
como um barco que lento se afunda
em pleno mar
Este choro que não parece
mas que tece
flores azuis nuns olhos
que não são meus
Este choro que é vertigem
que desconheço a origem
mas que me deixa assim
à boca de água
a tantas
milhas de mim
Este choro que mais não é
que raiva, amor e ódio
gotas de cloreto de sódio
tanto que já nem sei
se choro agora
ou se já chorei
por toda uma vida
Sei que me afogo
sem querer
engulo a dor
ninguém precisa de a saber
tão pungente
como se fora um ferro quente
a marcar_me como gado
Estás em todas as lágrimas
em todo o lado
como se um mar imenso
me inundasse
e eu só te tivesse a ti
para lembrar
Quisera eu pertencer-te
de forma tão intrínseca
e indissolúvel
como o céu é das estrelas
o mar dos rochedos
a raiz é da flor
os espinhos são da rosa
Quisera eu ser-te
como tu és em mim
gostares de mim
como eu amo tudo o que vem de ti
até o teu silêncio e a tua crueldade
Mas em vez disso
coloco os olhos ao nivel dos dedos
a alma bem rente à boca
os braços em V tombados sobre o ventre
e desfaço-me em gritos e versos
que tu não sentes nem ouves
e que, por algum motivo
que eu fingo não entender,
jamais te tocam

quarta-feira, 22 de março de 2017

FOI LONGE!
Quando quis ir
e as pernas me falharam
quando senti que o chão
era de aço
e o céu do mais puro chumbo
quando o meu cansaço
não me deixava prosseguir
quando o meu desalento
vinha do fundo
da minha alma
quando senti saudade
e não te tive
quando o céu beijava o mar
e eu ali tão perto
Quando os meus olhos
nada viam
só deserto
quando quis sorrir
mas era meu espectro
de felicidade que via no espelho
Quando quis chamar teu nome
e foi eco que recebi
Quando finalmente percebi
que tinha de ser eu por mim apenas
e mais ninguém
Não mais me importou
onde me sentei
que céu olhei
que palavras dedilhei
no céu da boca
pois independentemente
do caminho traçado
do chão calcorreado
dos passos bons ou maus que dei
meu coração sentiu que tinha chegado
e aí eu parei
Parei de te procurar
e milagres dos milagres
me achei!
Quero o perfume das flores
lavrado nas minhas costas
quero as dúvidas todas
e as respostas
Quero a luz que vem do teu olhar
a tardinha a desmaiar
refém da tua ternura
Quero a tempestade
a ventania
e o prado verde
cercania
da minha cidade
fonte da minha amargura
Quero os versos sem idade
que ao longo de anos compus
quero que em mim recaia a saudade
as sombras e a luz
Quero esse amor louco
que me consome
quero o verbo e o pronome
porque só o sujeito é pouco
e quero meu amor
mais que tudo nessa vida
o teu beijo mel em mim cravado
na hora da despedida
De quantas palavras precisas
para cederes ao apelo dos meus braços?
De quantas luas precisas
para te sentires céu ?
E de quantas fogueiras que te aqueçam a alma?
Quantos ventos terás de enfrentar
até cederes ao remoinho do teu corpo?
E de quantas chamas são feitos os teus versos
que ardem na ponta dos dedos?
Com esses dedos que não me tocas?
Diz-me de que cor é o mar que trazes nos olhos
e o sal que vem em cada beijo que não damos?
Alguém me disse um dia que amar
não implica tristeza nem solidão
mas há um brilho baço em cada olhar nosso
feito de finos fios de desejo e saudade

sexta-feira, 17 de março de 2017

Num dia que não hoje eu dir-te-ia que já te esqueci que não te guardo rancor ou qualquer mágoa Que os meus olhos água estão iguais aos que sempre foram Num dia que não hoje eu dir-te-ia que os pássaros já se deitaram e que as arvores abanam despidas ao vento que há um certo encanto em todo o silêncio e que a saudade dá alento a quem sabe esperar Num dia que não hoje confessar-te-ia as minhas fantasias do que tenho medo as fraquezas e ousadias que coabitam em mim.... Mas hoje que não vislumbro a lua que o céu parece ameaçar chuva e que as janelas não se iluminam de estrelas apenas me ocorre dizer que nenhum dia é igual a outro mas que em todos eles sinto a tua falta!
Foi assim que eu aprendi que tem coisas piores do que ficar sozinha. Poderia não ter amigos. Poderia ser incapaz de lapidar a palavra, ou, tanto pior, eu poderia ser feia...ou burrinha...
Só não pode ser cedo demais ou tarde demais. Agora preciso esperar que o próprio tempo dissipe esse aborto que é o ~ cedo demais ~ .

Nessa hora eu invejo profundamente toda e cada árvore. Elas vivem os invernos da alma com leveza. A tristeza, ela também é parte da vida. Então vou falar uma coisa, dessas que todo mundo sabe mas não tem tem muita coragem de falar em voz alta: precisamos aprender o tempo do triste. Eu e você. Para lembrar que ele também é tempo e, como tudo, passa. Só que eu, eu tenho uma natureza alegre. Ela é pouco tolerante ao tempo do cinza. Uma combinação difícil. Como conciliar forças tão divergentes? Se eu tivesse a natureza dos bambus, me curvaria, quieta, nos dias de vento a esperar passar. Se eu cultivar na alma a natureza de todas as árvores, será que eu consigo aplacar a fúria da pressa?

Porque o tempo, o tempo é tudo o que temos. O tempo das coisas que duram ou das que terminam. Há uma dignidade no fim. E há uma dignidade no tempo dos sentidos, assim como há uma dignidade na tristeza também.
Só assim podemos conviver com nossos erros e acertos ou nossas vidas destruídas: aceitando as coisas com o tempo de cada uma. De frente. No presente. Porque também há uma dignidade no fracasso. E há uma dignidade inclusive no desespero - a mais terrível forma de tristeza. É uma tristeza que não se quer se saber triste nem aceitar o tempo da espera. Mas também é quando a dor do erro descobre que não tem mais o que esperar. Quando não há o que esperar, o tempo aquieta. Paralisa.
Aí você me pergunta: e você?
Eu?
Eu desesperei - enquanto todos encaravam, com horror e espanto, a fragilidade de uma alma incapaz de se render ao tempo das coisas.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Por isso, veja bem, a importância do tempo das coisas, você me entende? Não dá pra acelerar ou deixar pra trás o ritmo dos sentimentos sem se tornar um hipócrita, um cretino ou cínico. Eles, como as coisas, têm o tempo que tem que ter e não dependem mais de mim ou de você ou de ninguém. Mesmo que pareça impossível concentrar no corpo a calma das árvores, o tempo das coisas acontece em nós. Justo em nós, que ficamos sempre perplexos pelas dissonâncias do que nos acontece. Justo em nós, que olhamos assombrados para o nada, nosso destino, nosso fim. Justo em nós, que precisamos transformar em nosso o tempo do outro… - sem jamais esquecer que ele é do outro.
E eu? Eu tenho que aprender a me demorar mais. A me demorar mais em você, nas coisas. Precisamos de mais tempo. Não sou só eu que me perco na duração do instante. É que as palavras - e junto com elas os sentimentos - se encontram e se combinam de forma abrupta na trama dos eventos, eu acho que só para determinar algumas escolhas. Me aconteceu você. Eu aconteci em você. Abortamos. Tempo errado.
Por isso, eu preciso encontrar uma forma de conquistar a impassividade dos pinheiros que sabem de cor a hora de cada pinha. Eu sou sempre antes, sempre cedo demais e, quando eu me dou conta, já é tarde demais. Aí o que me resta é perambular pelas dobras do tempo, quando ele deixa de ser linear, e se dobra em mim, na minha dor, na minha incapacidade em apreender o ritmo do mundo. Nessa hora ele habita o pensamento, ali se vive tudo ao mesmo tempo - nesse espaço impossível - o antes, o depois e o agora. Não importa a ordem. Será que é assim que abandonamos o que já foi sem nos lançarmos, como uma flecha, ao abismo que é o futuro?
O tempo das coisas é eterno. Mesmo que você não esteja mais presente, que tenha decidido ir embora e me deixar aqui, ou mesmo quando a gente decide abandonar tudo e vem aquela ânsia de sair pelo mundo e recomeçar. Também nessa hora o tempo das coisas está lá, pra colocar você no seu devido lugar. E você, quando saiu, deixou em mim o tempo da sua ausência. Nunca o do seu retorno. A volta, ela é sempre mais rápida. Tudo fica mais fácil quando a gente já conhece o caminho. Mas decidir não voltar demanda a bravura e a inocência daqueles que sempre acreditam. Será que a gente ainda poderia se encontrar, sem querer, em uma outra curva do caminho?
Difícil. Eu queria poder decretar uma lei que impedisse que algumas frases fossem compostas. Algumas palavras deveriam ser como elementos químicos, ter naturezas incompatíveis, combinações impossíveis de acontecer, impensáveis. Talvez assim eu conseguisse tornar algumas ações impraticáveis, algumas dessas que eu pratiquei, que você inventou. Elas seriam possibilidades que não existiriam mesmo nos sonhos mais loucos. Mas os sentimentos, assim como as palavras, são elementos complexos, independentes, que se ligam das formas mais estranhas para criar uma dinâmica particular. Eles se tornam mais profundos do que o que se deseja ou se espera deles, num compasso maluco que nos ensina, mais uma vez, a precisão da hora certa.

terça-feira, 14 de março de 2017

Como seria possível para nós, filhos do acaso ou de pais neuróticos, saber a precisão do tempo de cada coisa? Como acertar o tempo certo, com a exatidão da folha, que se recolhe, impassível, na espera de desabrochar com mais beleza? Esse instinto de relógio cuco não me pertence - desses que não atrasam um segundo e vêm com um pássaro impiedoso para não perder uma chance de me lembrar que tudo tem um tempo próprio: o amor, a solidão, o sexo, o riso.
Alguns povos tinham como sagrado esse papo do tempo das coisas, da medida exata, do momento presente. Mais que uma elegia ao equilíbrio, era o culto ao instante. Eles não subestimavam o poder do agora. Admirei. É um exercício para os fortes esse de lembrar de nunca esquecer que tudo pode mudar a qualquer momento. Diante disso, eu especulo: bastaria a demanda correta, um gesto, uma exigência para acertar o passo de cada um na dança da existência, que é sempre rumo ao fim? Seria possível conviver em paz com o que está sempre se esgotando?
Olhar o presente de frente é saber que só ele existe. É viver na finitude, no que escorre pelos dedos. Viver com isso tudo na sua cara exige a franqueza das crianças e dos estúpidos. Porque você vai cair na tentação de esquecer que tudo, absolutamente tudo, acaba. Você, assim como eu, vai se perder nas bobagens do dia a dia ou transformar a agilidade da moça do mercado em uma pedra filosofal capaz de determinar o sucesso ou fracasso da sua existência - e resumir isso tudo apenas numa atitude inadequade e mal direcionada, para não apontar tantos dedos... Porque é perturbador lembrar o tempo todo que tudo, absolutamente tudo, passa.
Menos o tempo das coisas.

O tempo que me habita não é o tempo das coisas. As coisas, elas têm um tempo próprio. Elas começam e acabam e transformam a gente nesse durante, num ritmo que é delas - e isso aí vira o nosso tempo. Mas as coisas, elas são como as estações do ano. Por exemplo, eu me pergunto como as árvores conseguem superar os invernos. Você não? Você nunca se espanta? Olhando pra elas lá, firmes, imperiosas, isoladas, nuas?
Admiro a paciência do carvalho. A impassividade dos pinheiros. Elas têm a compreensão profunda da hora certa, a paciência da espera para as coisas com hora marcada. É que as árvores vivem a eternidade do tempo certo. Elas não têm nem antes nem depois: são somente o agora.
Já eu… eu não. Ao contrário de mim, as árvores não têm vontade. Você já viu uma árvore ansiosa? Uma árvore em crise de pânico?

sábado, 11 de março de 2017

Onde a serenidade encontra a ternura
onde os dedos vasculham as notas
onde a pele encosta noutra pele
onde um abraço pede outro de volta
onde um suspiro encontra colo
onde a rendição é um acto de coragem
onde a tua mão conflui como um rio
na concha do meu corpo
onde as coisas minhas e tuas se misturam
até não sabermos mais quem somos
onde eu te amo
e tu também...
--é aí que quero estar...
onde todos os timbres são melodias!
Nenhuma palavra te toca, eu sei!
Mas mesmo assim continuo a escrever-te
como se cada letra te beijasse
Quando todo o resto
tiver desaparecido
que sobrem as flores
para nos lembrar
que poderíamos ter sido
tudo aquilo a que nos propusemos
mas que escolhemos
baixar os braços e deixar que o tempo
galgasse em cima de nós
e nos apagasse essa vontade certinha
e miúda
sempre crescente
que tínhamos um do outro
Que faço eu com a nossa história?
Com os sorrisos que demos
as juras que fizemos
os olhares cruzados
Guardo ou deito fora?
Que faço eu com o toque d'alma
que grita cá dentro
com esse crescendo
em forma de grito
com esse lamento
sob a ponta do véu
com esse pedaço de céu
que chamávamos de nosso?
Que faço eu com esse fosso
que virou minha boca
onde tudo é eco sem resposta?
Que faço eu com o vento que passa
bem perto da minha porta?
Que faço eu com o que me sobroude mim mesma?
Que faço eu com esse arsenal de sonhos
que sequer tiveram a chance de vingar?
Em que pensas tu agora
que o sol se foi?
que já nada te aquece
a não ser o sangue que te corre nas veias?
Em quem pensas tu agora
que já cuidaste do teu jardim
e alimentaste os peixes
que já pousaste o olhar no mar
e viste que está maré cheia?
Em quem pensas tu agora
que o mar não te devolve o eco
do teu próprio silêncio
e escondes a custo a lágrima
que teima em abandonar-te os olhos?
Em quem pensas tu agora
que sou apenas uma lembrança
que tiras e guardas do teu baú de memórias
que sou uma seta cravada no teu peito
onde de quando em vez levas a mão
para ver se ainda sangra?
Em quem pensas tu agora
que a noite chega com todas as sombras
e eu me passeio por dentro da tua carne
mesmo quando tentas arrancar-me de ti?!

segunda-feira, 6 de março de 2017

Carrego no peito e na alma...

De ti guardo pérolas de saudade
num corpo que ainda 
hoje e sempre
é só teu
como se me faltasse idade
para entender a noite
para aceitar o breu


Apesar da descrença de alguns...da hipocrisia de outros e da inveja de outros tantos....apesar da maldade que nos afetou tão profundamente, machucando e instaurando o caos...o amor ainda impera. Este amor meu bem, ainda é o que tenho de mais precioso!!!






                                                 O que está no coração não precisa de agendas, porque não esquecemos!                                                                                    O que a "memória ama", torna-se eterno!
Estou onde me perdeste! 
A tapar a tua ausência
com o cheiro das flores
a mascarar o sorriso
e a contornar o fogo
a debitar palavras sem nexo
só para não morrer muda
e sem esperança
Estou na face contrária onde o sol bate
de costas para o mar
e onde todos os negrumes se avolumam
mudo de cor conforme muda o vento
mas continuo estúpida e
imperceptivelmente em busca da tua carne
em busca do teu rasto

Estou onde me perdeste!
no mesmo lugar de sempre
onde cresce a relva
e se demora a lua
Por ti desbravei caminhos                                         andei descalça
semeei ventos e tempestades

Por ti reneguei amores
amanheci noites enfermas no meu regaço
espantei o frio
e fui deserto
Por ti semeei trigo em pleno inverno
e deixei que as rosas me morressem nas mãos
sem sequer lhes sentir a beleza
ou o perfume
Por ti fui mais além
e achei que ainda era pouco
tornei-te em mim inesquecível
e bebi da tua pele
Por ti senti-me proscrita
e mil vezes maldita
por te amar tanto
Por ti fui amor e espanto
desejo e ternura
roca e fuso
de um tecido que só os meus dedos
em ti reconhecem
Por ti evoquei esperanças
que não tinha
e emudeci palavras
que tinha guardadas em mim
apenas para a ti dizer
E é por tudo isto
que por ti me abandonei aos dias
e sulco o chão palmo a palmo
Porque se a terra que piso
é inesquecível e mapeável
no meu corpo
tu também o és....
hoje e agora mais que nunca!