sábado, 20 de julho de 2019

Pensei que a minha vontade bastava para fazer acontecer
que o meu sorriso bastava para fazer sorrir o mundo
que brava e heroica era a minha garra
e imune o meu corpo
Pensei que a minha raiva me movia
e me fazia chegar sempre um degrau acima
do que eu me propunha
mas esqueci-me que o tempo era meu e não nosso
que a minha vontade não era a tua
que o tempo não se abria em flor para mim
mas para todos
e que tudo parecia suportável porque tu estarias ali
Mas a noite passou
e amanheceu
e os meus olhos descobriram que tu não estavas
que tinhas desistido
e ido embora
e a minha vontade
a minha garra
a minha raiva e o meu sorriso
nunca mais foram os mesmos!...

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Fanatismo - Fagner e Zeca Baleiro

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho
Mais perfeito que se fez
Os traços copiei
Do que não aconteceu
As cores que escolhi
Dentre as tintas que inventei
Misturei com a promessa
Que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você
Em luz e sombra
E era sempre
Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são
Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis
Que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com as lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte
E era sempre
Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal, eu não queria machucar você
Prometo que isso não vai acontecer mais uma vez

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Faltam-me dedos para contar
toda a ternura que um dia houve
mas sobram-me olhos e lágrimas
para chorar toda a desilusão que me desteResultado de imagem para mãos se tocando
Sabes de que lado sopra hoje o vento
e quantas vezes lamento
que o seu sopro não me toque
como tu?!
Sabes que o meu peito nu
te aguarda
que o meu olhar desespera pelo teu?!
E quando vislumbro na noite
essa calma brisa
que meus sentidos move e atiça
sinto na pele fresca e roliça
como se teus dedos me tocassem
e ao de leve falassem
tudo aquilo que não sei dizer-te...
E no entanto é na tua boca que deixo
os meus melhores poemas
aqueles de que nem preciso estrofes ou temas
mas apenas tu para escrevê-los

sábado, 16 de junho de 2018

Bebo dessa tua saudade
que ainda arde
que ainda queima
e dói
por tudo o que poderia ter sido
por tudo o que não foi
Bebo desse amor
que ainda floresce
que ainda transparece
em cada gesto
em cada silêncio
em cada baixar de olhos
como se as coisas fossem todas
assim tão simples de serem ditas
Mãos frias estas minhas
que se aquecem a cada lembrança tua
como pequenas covardias
a que me permito
sempre que respiro