quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Cecília Meireles

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O tempo passa e o sentimento continua aqui, como se nada pudesse mudar isso tudo...
Deve ser obsessão, maluquice, masoquismo...
O que fazer para esquecer tudo?
até tentando desesperadamente esquecer, estou pensando em vc, presa, congelada num mundo de ilusões que criei, e vc alimentou. 
Evito falar do que sinto, evito deixar que percebam, mas a verdade é que vivo esse martírio, hoje sei que não existe nada além dos meus sonhos, que você na realidade deixou de existir, a pessoa que eu conheci, já se foi , talvez tenha sido uma fantasia....
Durante tanto tempo pensei que havia sido nobre de sua parte agir da forma que agiu, por não conseguir ver possibilidade de mudar algumas coisas naquele momento. E então continuei alimentando minha ilusão. Fui tão tola, infantil, mas o que é que a gente faz para deixar de amar? Será que existe um botão pra desligar?
Já tive todos os motivos que poderia para simplesmente deixar de lembrar cada momento...e voce continua aqui.... 

Estou cansada demais de tudo isso, cansada demais pra continuar tentando esquecer sua existência...
Um dia quero acordar sem lembrar de vc, um dia desses alguma coisa, alguém, chega e me arrebata, muda tudo, e eu vou ver que você na realidade nunca existiu, que você era o que "eu" queria que você fosse....Dizem que somos apenas reflexos, não é mesmo? Tudo o que me encantou em você, as suas maluquices por copiar todas as minhas fotos ao tentar me conquistar, seus comentários mostrando que era o dono do pedaço...tudo que me deixava completamente a sua mercê, foi apenas o reflexo de um sentimento imenso que existe dentro de mim...então o foco um dia muda...tem que mudar...
E haverá um novo motivo pra sorrir, pra me encantar, alguém que olhe pra mim e te tire do trono onde insisto em te manter....

sábado, 8 de fevereiro de 2014


Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...
Carlos Drummond de AndradePS: Doloroso ainda não saber me livrar da dor, das lembranças de promessas que não foram cumpridas.....

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A Voz Do Silêncio -

Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem
Martha Medeiros
Ontem chorei. Por tudo que fomos.
Por tudo o que não conseguimos
ser. Por tudo que se perdeu. Por
termos nos perdido. Pelo que
queríamos que fosse e não foi.
Pela renúncia. Por valores não
dados. Por erros cometidos.
Acertos não comemorados.
Palavras dissipadas.Versos
brancos. Chorei pela guerra
cotidiana. Pelas tentativas de
sobrevivência. Pelos apelos de paz
não atendidos. Pelo amor
derramado. Pelo amor ofendido e
aprisionado. Pelo amor perdido.
Pelo respeito empoeirado em cima
da estante. Pelo carinho esquecido
junto das cartas envelhecidas no
guarda- roupa. Pelos sonhos
desafinados, estremecidos e
adiados. Pela culpa. Toda a culpa.
Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo
que foi e voou. E não volta mais,
pois que hoje é já outro dia.
Chorei...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A paz é amor porque só surge quando se está ao lado de alguém sem medo, sem culpa, sem pena, sem ter que explicar ou se explicar, sem interesse algum senão o de ficar ali.
(...)
Difícil a paz no encontro humano, porque ele está vivo, cercado por palavras atropeladas, explicações febris, idéias infeccionadas, teorias leprosas e lógicas estupradas. A paz não concilia com nenhum sentimento. Arisca e exigente, só aparece quando não há sintomas de medo, culpa, interesse, pena, dependência, ciúme, possessão ou cobrança.
(...)
A paz é a única medida mais ou menos precisa do que é o amor. Por ela, ele se define e transluz. Se paz não surge, então o sentimento (ainda que intenso e profundo) será tudo menos amor.
____________________Artur da Távola