domingo, 28 de agosto de 2016

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CAMPO MINADO

Já andei por tantas terras

Já venci mil guerras

Já levei porradas dominei meu medo

Já cavei trincheiras no meu coração

Descobri nos pesadelos sonhos mutilados

E acordei no meio de anjos cansados

De serem usados pela solidão

Ah! Meu coração é um campo minado

Muito cuidado ele pode explodir

E se depois de tão dilacerado

For desarmado por quem há de vir

Alguém que queira compensar a dor

Plantar o sonho e ver nascer a flor

Alguém que queira então me residir

E explodir meu coração de amor

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A cada dia, o beijo materno da noite sobre o que se passou, assenta um pouquinho de sabedoria em nós. Dobrando pedacinhos de retalhos para fazer algo maior depois. Noite após noite, dia após dia, minha ânsia de te esperar se tornou uma calma estranha que só existe dentro de mim.
O amor virá quando estivermos prontos para aquecê-lo, quando tivermos alinhavadas as costuras de nossos aprendizados, quando formos mais inteiros que sozinhos. Há dias, entre as noites, em que penso que você se perdeu na longa jornada da vida até mim. Você já amou tanto alguém a ponto de preferi-lo liberto? Estar livre é se perder. Prefiro que você se perca de mim a te perder por inteiro.
Se sua estrada é outra, se sua estada é curta, se você jamais passar por mim como a Bela Cintra jamais passaria pela Haddock Lobo, eu ainda te amarei. Não se trata de generosidade, desapego ou espiritualidade pleiadiana, meu amor por ti é simples e quieto, como as pessoas que sabem escutar o rio ao entardecer. Meu amor por ti tem a pura razão de me pertencer, sem esforço teu algum. Te amo em espera, mas muito mais em esperança.
Te amar não depende de prender-te a mim, como um enfeite de saudade, como um adorno de sentido. Não pendures nada em mim, que já somos por demais pesados em ser quem somos. Guarde-se para quando nossos caminhos forem cruzados, nas Antilhas, na Venezuela, na Guatemala ou na curva de minha espera que contraria toda a lógica e me faz seguir adiante. Quando enfim, estiver diante de mim, perdure e eu também me perderei em ti.
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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A fila andou. Pra você, não pra mim. Pra mim, isso nunca se tratou de fila, sequência. Eu morava em você e acreditava ser também a sua casa. Não havia outros enfileirados. Só você ali. Mas sei que agora sua realidade é outra, sorriso aberto, com uma roupa que eu não conhecia e isso também me doeu. A vida andou. Te olhar com um olhar estranho, te ter como não sendo meu, aquilo me feriu de um tanto, que pensei que iria enlouquecer.
A fila andou. Soube recentemente, quando me contaram cheio de dedos. Você já estava amando outra vez. Sempre parecerá rápido demais pra mim. Eu ainda nem entendo direito que acabou. A minha autoestima parece ter ido por engano junto com vc. Mas pra você, andou. O amor está logo ali, te tornando novo, te fazendo interessante, te ajudando a esquecer de mim. Ao que parece, a fila ao lado anda sempre mais rápido.
A fila andou. E tudo o que antes te parecia inconcebível, virou rotina. Tudo que eu mendigava, agora farta. Parece que a fila andou pra um lugar melhor pra todos e eu sigo aqui. Eu poderia dizer que fico feliz, que desejo o melhor, que espero mesmo que sejam muito felizes. Mas isso também seria mentir. Eu desejo que você seja pleno, que viva a sua verdade, eu desejo de verdade que você seja feliz, mas jamais que fico feliz por vocês.
Não sou do tipo gentil, superior. Não sou do tipo conformada. Não sou do tipo intelectualizada. Não sou a mulher civilizada, eu sou antiga e anterior. Eu sou primitiva, apavorada, instintiva. Sou unha e carne de amor. Passional, possessiva. Vermelho sangue. Eu não sou do tipo que passa a vida de fila em fila. Prefiro correr por aí, louca, descabida, livre da necessidade de me pendurar imediatamente ao outro. Livre da incoerência de não parecer sozinha, quando isso é realmente tudo o que eu sou. Por aqui, querido, a fila não andou. Sigo na direção que eu quiser.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Peço que volte ( Evanescence - My Immortal )

Continuar...

Algumas séries me fisgam pelas beiradas. São frases, ditas no meio de um episódio, que me levam a refletir os últimos acontecimentos de minha vida, e de repente estou apaixonada pelas personagens, feito a Teresa, de "Três Teresas", na noite de ontem. Lá pelas tantas, a frase: "O mundo da gente começa a morrer antes da gente... e a gente tem que continuar..." _ Pronto. Foi a deixa para meu pensamento voar, entender alguns desencaixes, suportar certas partidas, colocar algumas peças no lugar.
A gente tem que continuar mesmo depois que o arroz queima, a água seca, o vinho entorna. A gente continua depois de descobrir que os defeitos pioram com a idade e as qualidades viram hábito no dia a dia. A gente tem que continuar depois do luto, da partida, da despedida. das horas frias, do caminho incerto. A gente continua e aprende a cantar "apesar de você, amanhã há de ser outro dia..." para o amor que não deu certo, para as falhas recorrentes. para nós mesmos que nem sempre somos aqueles que gostaríamos de ser. Apesar de nós mesmos, de nossas fissuras e desencantos, a gente tem que continuar...
E aprendemos que ter que continuar é muito mais que traçar um caminho que justifique nossa esperança por dias melhores. É saber deixar pra trás com sabedoria, entendendo que a vida é constituída de muitas histórias, e que finalizar um capítulo não significa dar fim ao que somos.
O mundo da gente começa a morrer antes da gente, e aceitar nossa responsabilidade em deixar o mundo se modificar, se despedir ou se transformar requer coragem. Coragem de romper com modelos antigos do que fomos e assumir com maturidade novas versões _ muitas vezes melhores _ de nós mesmos.
De vez em quando nos habituamos a antigos nós. Preferimos a dificuldade do que é conhecido à facilidade de novos e perfeitos voos. Desdenhamos a felicidade como quem se empenha em ser infeliz e construímos muros a nos proteger da vida que chega trazendo ares de esperança e novidade. Preferimos nos refugiar no que é conhecido, e nem sempre melhor.
Muita esperança chega junto ao fim de ano e a promessa de novos dias, limpinhos, pra gente escrever a história da melhor maneira que puder. Talvez precisemos aprender a aceitar as novas realidades que inevitavelmente ocorrerão. Haverá a mãe que terá que se adaptar ao fim da licença maternidade, a adolescente que verá seu namoro ruir, o homem que receberá o pedido de divórcio numa manhã aparentemente comum, a senhorinha que vai enviuvar, os pais que levarão seu menino ao aeroporto para fazer intercâmbio, a menina que verá o fim da infância num teste de gravidez, a decepção do jovem, o casamento da moça dos sonhos, o ninho vazio, as novas dores da maturidade, a traição, o recomeço, a renegociação com a vida.
Talvez seja isso. Aprender a renegociar com a vida, descobrindo que novas portas estão sendo abertas, mesmo que haja a tendência de nos fixarmos em cadeados fechados. O mundo da gente começa a morrer antes da gente, mas o futuro também guarda boas surpresas, e o que se pode chamar de "nosso mundo" não existe só no passado, mas na realidade que construímos diariamente e somente nós podemos lapidar.
A gente tem que continuar. Que o que está por vir traga o reconhecimento de nossos presentes, dádivas reais que permanecem além da morte de nosso mundo ou de um tempo. O que ninguém nos tira: a capacidade de nos recriarmos em qualquer tempo. A alegria de nos percebermos resistindo, apesar de tudo. A satisfação de percebermos nossa coragem. E finalmente, a paz de nos aceitarmos por inteiro.