sábado, 28 de dezembro de 2013

A ULTIMA PORTA
(Lucia Padilha)


Por tantas vezes esta porta foi batida por mim.
Incontáveis vezes derrubei-a com a força do ciúme.

Fui rotulada de fúria... Fui considerada insana...
E acreditei nestas verdades como absolutas...
Deixei-me abater por acreditar-me irracional...
Deixei-me vencer.... Assumi minhas derrotas...

Recolhi-me à solidão. Me acreditava doente...
Via o amor que sentia como sentimento torto...
Tive a certeza que não sabia amar direito...

O que fazer com este sentimento agora?
Não conseguia arrancá-lo de mim...
Embrulhei-o então e escondi-o bem distante...

Recusei-me a olhar para onde ele estava...
E consegui a doce ilusão do esquecimento...
Aos poucos fui me recuperando... Me curando...
Enxerguei outras paisagens...
Percorri outras trilhas...

Cheguei mesmo a crer que havia aprendido a amar...

Quase consegui sentir que era amada...
Mas os ventos da alma resolveram soprar forte...

Revolveram tudo à minha volta... Me desarrumaram...

E deixaram à mostra aquele amor embrulhado...
E vi que ele continuava ali...
Exposto à minha visão...

E sua força havia se mantido...
Resistido ao tempo...

Voltei-me a ele de coração entregue...
Não consegui resistir...

Fiz-me calmaria... Busquei a mansidão dos lagos...

E tentei ser suavidade onde antes era fúria...
Busquei sensatez onde era insanidade...
Mas o tempo deste amor já passou...
Tentar recuperar o que se perdeu no tempo...
Tentar retomar aquilo que se rompeu...
Inúteis tentativas de um coração saudoso...

Hoje transponho novamente esta porta...
Atravesso-a mais uma vez acompanhada das lágrimas...

Mas desta vez elas são silenciosas...
A dor só esta expressa nos meus olhos perdidos...

Porque saio mansamente...
Fecho-a com cuidado...

O amor talvez seja até maior que antes...
Mas ainda assim saio em silêncio...
Porque rendi-me à sua impossibilidade...
Porque aceitei apenas sentí-lo ao longe...
Olho pela ultima vez todo o passado...

E termino de trancar esta porta...

Cuidadosa e silenciosamente....

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